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SNIPERS - HISTÓRIA
As técnicas, táticas, doutrina e emprego dos
snipers vem se desenvolvendo com a história. Não
foi criado do nada ou por uma boa idéia.
A história recente dos snipers começa na guerra
de independência americana, em 1775, quando milicianos locais
conseguiam acertar formações inglesas a
distância. Os alvos preferidos eram os oficiais que tinham
uniformes bem diferenciados dos soldados. Alguns batalhões
ingleses chegaram a perder todos os oficiais. Os veteranos
caçadores de peles locais, acostumados a longos
períodos de solidão, formaram unidades de
“sharpshooters” (atiradores de elite), equipados
com rifles Kentucky, os quais, pela qualidade de sua manufatura e longo
comprimento de cano, tinham mais alcance e eram mais precisos do que os
fuzis dos soldados britânicos.
O desempenho destas unidades levava o pânico aos
corações dos soldados de britânicos,
que não tinham sequer como combatê-los, pois nunca
os viam, ouvindo apenas o assobio da bala. Nesta época a
táticas das tropas armadas com mosquetes para tiro a longa
distância era atirar em massa contra a massa de tropas
inimigas. Acertava mais por sorte.
Antes desta época as armas eram muito imprecisas para que o
sniper fosse viabilizado. Cada Divisão francesa na
época de Napoleão tinha dois batalhões
de mil "sharpshooter". Estes batalhões tinham capacidade de
atingir alvos a 100 metros. Ficavam concentrados em uma guerra
particular ao invés da batalha geral como infantaria. Em
combate atuavam juntos, formando uma força maior de cerca de
16 mil homens para concentrar contra força de até
o dobro do tamanho e venciam fácil. Cada Companhia
também tinha um grupo de "sharpshooter" para serem usados
contra artilharia e oficiais. Na época os combates eram a
cerca de 150 passos.
O fuzil de tiro de repetição da era industrial
era 10 vezes mais preciso que os mosquetes não raiados. O
infante logo ficou mais letal. Em 1848 surgiu o projétil em
cone, chamado de munição Minié. Era
mais preciso que o projétil todo arredondado. .
No século 19 já se percebia que sniper podia
influenciar o resultado de uma batalha, ou pelo menos atrapalhar em
muito o inimigo. Na batalha de Gettysburg em 1862 dois snipers
confederados mataram dois generais e feriram outro, além de
vários oficiais superiores. Direcionou a artilharia para sua
posição e liberou uma frente.
Na guerra civil americana foram formados um batalhão de
sniper confederado. As técnicas logo foram aprimoradas e
novas armas apareceram. A lista de prioridade de alvos logo foi criada.
Também ocorreram duelos de snipers. Passaram a ser usados
como fonte de coleta de informação e
observação. Em uma ocasião um sniper
conseguiu silenciar um canhão por dois dias simplesmente
evitando que alguém chegasse perto. Os snipers logo
aprenderam que disparar de cima de uma arvore logo resultava em retorno
do inimigo com morte certa. Só os japoneses continuaram a
usar esta tática no Pacífico.
Foi o Tenente Coronel D. Davidson, veterano da Guerra da
Criméia (1854- 56), o primeiro a sugerir instalar lunetas
nos fuzis de infantaria para aumentar a precisão a longa
distancia, além de melhor treinamento. A luneta foi pouco
usada no conflito, mas aproveitaram as táticas. Na mesma
guerra, John Jacob, oficial que servia na Índia, tinha um
fuzil com projétil explosivo com alcance de 1800 metros. Foi
testado no conflito contra uma posição de
canhão que logo se retirou.
Em 1868 surgiu a tecnologia de cartucho e a pólvora de pouca
fumaça. O poder, alcance e precisão foram
aumentados a níveis nunca atingidos antes e era tudo que os
snipers precisavam dando um grande impulso para novas
táticas e técnicas.
Em 1880 foi introduzido a pólvora com pouca
fumaça e mais potente. Antes a fumaça branca
dominava o campo de batalha e a posição dos
sniper era facilmente visível. Sem fumaça o
efeito moral de terror dos tiros do sniper foi multiplicada.
Na Guerra dos Boers entre 1899 a 1901, os Boers, fazendeiros de origem
holandesas, eram caçadores locais e bons de tiro, deram
muito trabalho as tropas inglesas. Eram guerrilheiros sem treinamento
militar e usavam táticas próprias. Atiravam de
longe sem ser atacados. Usavam camuflagem nas roupas, face e
chapéu. Os britânicos eram lentos e tinha que
caminhar a noite. Os Boers eram rápidos e disparavam
escondidos a longa distância. Logo os britânicos
só marchavam a noite para se proteger. Os
britânicos não eram treinados para tiro a longa
distância tiro e nem contra guerrilha. Os Boers usavam o
terreno e a camuflagem para compensar a desvantagem
numérica. Mesmo assim a superioridade britânica
acabou vencendo, mas com muitas lições que
mudariam a guerra no futuro e seriam aplicadas na Primeira Guerra
Mundial.
Primeira Guerra Mundial
A palavra sniper tomou uso rotineiro na Primeira Guerra Mundial. Antes
da Primeira Guerra Mundial, os britânicos estavam preparado
para uma guerra concentrada sustentado fogo em pequena área.
O conflito logo degenerou para outro tipo de guerra. Inicialmente os
britânicos tinham trincheira bem definidas. Depois passaram a
entulhar tudo na frente como os alemães faziam.
Antes do conflito a Alemanha já usava snipers em
nível de Companhia. Uma seção do
batalhão tinha 24 sniper com fuzis equipados com boas
lunetas. Os alemães trabalham em dupla revesando o papel de
observador e sniper. Cansa ficar olhando por uma luneta ou
binóculo por muito tempo. Com seus snipers os
alemães conseguiram dominar os dois primeiros anos na terra
de ninguém. Em um dia típico, um
batalhão aliado perdia 18 homens para os sniper. Nas
trincheiras as distâncias eram sempre a menos de 200 metros.
Os sniper atiravam de várias posições
trocando frequentemente. As posições eram
reforçadas com metal, cavalos, corpos faltos e qualquer
material para camuflar a posição, com locais de
tiro falso para atrair a atenção. Na Primeira
Guerra Mundial, os alemães usavam placas de metal nas
trincheiras com buraco para atirar. A reação foi
o uso de artilharia e camuflagem das posições. Os
britânicos testaram um fuzil para matar elefante para
perfurar as placas blindadas. Os alemães reagiram colocando
duas placas com terra no meio. Usaram táticas de mostrar
capacete e cabeças falsas acima do parapeito para chamar a
atenção. Já os britânicos
testaram um fuzil com mira por periscópio para observar e
atirar sem se expor.
Na década de 30 apenas os russos continuaram a manter uma
escola de sniper. Os alemães, britânicos,
franceses e o US Army fecharam suas escolas e o USMC manteve um pequeno
grupo. Os britânicos reabriram sua escola em 1940. O US Army
reabriu em 1942. Os alemães reabriram logo no inicio de suas
operações.
No fim da década de 30, na guerra contra os russos, os
finlandeses caçavam inverno com fuzil e era muito mais
fácil caçar soldados russos que
pássaros voando. As táticas eram simples. Os
sniper finlandeses eram muito móveis com seus esquis,
ficavam a frente de linha de defesa ou flancos, atacando postos
artilharia, morteiro e postos de comando. A
determinação de defender o país valia
muito. Já os snipers russos tiveram que reagir treinando
para guerra no ártico e passaram a ser mais independentes da
unidade que apoiavam.
Segunda Guerra Mundial
Quando começou a Segunda Guerra Mundial, apenas os
alemães e os soviéticos tinham mantido seu
treinamento especifico para snipers. Os alemães tinham
melhores armas e sistemas óticos, porem os
soviéticos os suplantavam em técnicas de
camuflagem. Quando os britânicos criaram sua escola de
snipers o manual ainda era da Primeira Guerra Mundial. O treinamento
não incluía papel de infantaria como tomar
terreno, capturar prisioneiros ou liderar ataques.
Os snipers alemães que atuaram na frente russa tinham como
alvos principais os operadores de armas pesadas, observadores,
oficiais, ou tudo que ameaça o avanço das tropas.
Sem liderança as tropas russas não
avançavam e ficavam paralisadas ou fugiam.
Os sniper alemães avançavam com as tropas,
cobriam flancos e pegavam observadores e ninhos de metralha inimigo. No
fim da guerra cada pelotão alemão tinha pelo
menos dois homens treinados como scout e sniper.
Na tundra russa, os sniper ficavam na frente das tropas. Penetravam a
noite nas linhas e durante o ataque ou barragem pré-ataque
tinham a missão de abater os comandantes e artilheiros. As
vezes acompanhavam o avanço para atingir operadores de
metralhadoras e armas anti-carro.
Uma tática de um sniper alemão durante um
avanço inimigo era deixar varias ondas atacar e atingir as
ultimas no estomago. Os gritos dos feridos enervavam os da frente.
Depois passava a atingir os mais próximos a 50m na
cabeça. É possível conseguir cerca de
20 kill em poucos minutos.
A tática de apoio de retirada iniciou com os
alemães na Segunda Guerra Mundial, em 1944, quando um
batalhão usava 4-6 snipers para cobrir a retirada de uma
compania ou batalhão. Uma metralhadora seria detectada
imediatamente enquanto os tiros a longa distância dos snipers
não e o inimigo passaria a atuar com cautela para
caçar os snipers.
O cerco de Stalingrado durou 900 dias. Lembrava a guerra de trincheira
na Primeira Guerra Mundial. Em um cenário urbano onde cada
janela ou buraco podia ser fonte de sniper. Para os snipers os alvos
eram fugazes, e a posição ficava comprometida
rapidamente com movimentação. Um ataque frontal
era suicídio, as incursões esporádicas
e brutais virou norma com uso de sniper. Os sniper dominaram o local e
a morte rondava todos os lugares. As distancia cidade eram de curto
alcance e a maioria menos de 300m. Na cidade é muito dificil
saber de onde vem o tiro devido ao eco.
Em 1924, os russos criaram várias escolas de snipers.
Gostavam de recrutar os caçadores da Sibéria por
serem bons para atuar no campo e eram caçadores natos. Os
melhores iam para as escolas distritais e nas escolas centrais os
melhores viravam instrutores.
Os snipers russos tiveram papel importante na Segunda Guerra Mundial.
Estima-se que mais de 40 mil alemães mortos foram pelos
snipers. No inicio da Segunda
Guerra Mundial havia uma equipe de fogo de snipers por
Divisão. No fim da guerra
já havia 18 snipers por batalhão ou dois snipers
por pelotão. A doutrina inclui usar o sniper a
nível de pelotão como parte da unidade, chamado
de DM em outras doutrinas. O objetivo é compensar a
capacidade de disparo longa distância perdida com os novos
fuzis de assalto otimizados para curto alcance e tiro
rápido. A infantaria passou a
usar muita submetralhadoras para supressão e era uma arma
ruim contra alvos em profundidade. Doutrinariamente os snipers cobriam
estes alvos mais distantes. A submetralhadora que era ideal em combates
urbanos. Até os snipers levavam uma nestes
cenários.
Na doutrina russa os snipers fazem supressão a longa
distância e eliminam alvos de oportunidade como
líderes. Os russos sabem que os lideres são um
alvo importante pois é difícil substituir
sargentos e oficiais de campo em tempo de guerra. Os russos perceberam
que um fuzil de sniper mais caro e menos rústico pode
compensar o custo-eficiência de um fuzil de assalto com boa
seleção de pessoal, treino e doutrina. Por
exemplo, os snipers de um regimento mataram 1200 inimigos com perda de
menos de 100 homens. Os russos perceberam que as mulheres eram boas
para a função de sniper devido a
paciência, cuidado e evitam combate curto devido a fraqueza
corporal.
Os snipers atuavam em duplas, com fuzil Mosin-Nagant com luneta zoom de
4x. Era preciso até 800m. Os snipers russos
também levavam submetralhadoras. Observador
também fazia pontaria para observar o tiro e atirar se o
sniper errar. Durante um avanço alemão a
missão dos snipers russos era segurar o avanço e
procurar outra posição depois. O custo em vida
foi alto.
Exemplo de operações na retaguarda seria uma
operação onde seis equipes de snipers russos
foram ordenados parar uma coluna de reforço
alemã. Foram de esqui até a
posição. Duas duplas cobriam o inicio do comboio,
duas o meio e as outras o fim. A primeira dupla abriui fogo e parou o
comboio. Os outros foram batendo alvos. Quando começavam a
tentar fazer o comboio se mover, os snipers reiniciavam os tiros e os
alemães paravam. Foi se repetindo até uma
posição ser localizada. Os snipers mudavam de
posição para reatacar. Conseguiram parar a coluna
que só andou 3-5km em várias horas.
Os oficiais é que ensinavam as tropas a atuar como snipers.
Os snipers russos recebiam treino de infantaria comum para
operações ofensivas e defensivas. Como levavam
submetralhadora, granadas e capacete, ajudava a esconder
função se capturado. No fim da Segunda Guerra
Mundial havia 18 sniper por batalhão ou dois por
pelotão. Os snipers russos foram escolhidos como fontes de
heróis e o número de kills pode ser exagerado por
isso. Podia ser uma tática de propaganda.
Ainda na Segunda Guerra Mundial, o USMC treinava seus snipers para tiro
e reconhecimento e por isso são chamados de "scout-sniper".
Cada Companhia tinha três snipers sendo um de reserva. O USMC
treinava reconhecimento e táticas de sniper agressivo, mas
era difícil de empregar nas selvas do Pacífico. A
velocidade de retorno de tiro faz diferença entre vida e
morte. Por isso tinha que atuar em equipe de três com sniper,
observador e apoio que cobria com metralha BAR ou submetralhadora. Cada
companhia tinha uma equipe. Alguns snipers eram improvisados, como um
oficial que treinava por conta própria e aproveitava para
atuar na função. O uso de luneta mostrou ser uma
desvantagem na selva densa o que se repetiu no Vietnã.
O USMC era a única unidade que treinava seus snipers para
tiro a até 900 metros. Este treinamento foi importante com
sniper conseguindo abater tropas em ninhos de metralhadora em Okinawa a
1.100m. As vezes tinham que usar traçante com o observador
indicando onde atingiu um alvo grande para determinar a
distância.
A ameaça dos snipers japonesas acabava com a
força e moral dos soldados americanos. O USMC logo iniciou o
uso de snipers como contra-sniper logo no começo da
formação do perímetro da
cabeça de ponte durante os desembarques.
Contra bunkers atiravam nas janelas de metralhadoras. Outros japoneses
tomavam o lugar, mas logo percebiam o que estava acontecendo e paravam.
Depois os Marines conseguiam avançar com apoio dos sniper e
atacar com lança-chamas e cargas explosivas.
Os Japoneses na Segunda Guerra Mundial, na campanha do
Pacífico, usavam seus snipers mais para defesa e por isso
eram considerados menos em ações ofensivas.
Funcionava bem no terreno cheio de árvores e areias do
Pacifico para controla movimentos de tropas inimigas. O
critério de escolha dos snipers japoneses era diferente do
ocidental. Eram escolhidos mais pela boa pontaria e era considerada uma
honra. O medo de fracasso os tornava bons. O treino era bem pratico e
sobrevivia muito tempo com poucos recursos para o padrão
ocidental. Os snipers japoneses não faziam
ações de coleta de
informações, pois atuavam até a morte
na posição, matando o máximo
até serem mortos, e não voltavam. Na selva das
ilhas do Pacífico usavam mira simples para curto alcance.
Os japoneses geralmente deixavam os americanos passar e disparavam por
trás de buraco ou do topo de arvores. Com pouca
distância até uma submetralhadora Nambu servia
como arma de sniper. Os snipers ficavam amarrados em arvores para
não dar dica para as equipes contra-sniper que conseguiu
atingir, pois não via nada cair. Os ocidentais
não usam arvores como posição, a
não ser obseravadores, pois vira uma armadilha mortal se
descoberto. Os japoneses usam sapatos e garras especiais para subir em
arvores. Conseguiam atrasavam os avanços por horas. Os
japoneses também usavam "buraco de aranha", bem profundo,
mas ainda com bom campo de tiro.
Os snipers japoneses preferiam o calibre 6,5mm mais fraco. O alcance
era relativamente pequeno, mas ainda potente a curta distancia na selva
e com pouca fumaça o que era mais importante.
A contramedida americana foi atirar indiscriminadamente no topo das
arvores com as metralhadoras BAR ou disparar um canhão de
37mm com munição flechete. Era uma tarefa lenta.
Logo que tomavam uma cabeça de praia os Marines tinham que
enviar equipes anti-snipers.
No período entre a Segunda Guerra e a Guerra da
Coréia, viu-se o ponto mais baixo na importância
militar dos snipers no Ocidente. Apenas os Royal Marines
britânicos e o Corpo de Marines norte americanos continuaram
a treinar e qualificar snipers. Os soviéticos, por outro
lado, mantinham seus snipers treinando sem cessar, e cada Companhia do
Exercito Vermelho possuía pelo menos três snipers
em seu efetivo. Nos EUA apenas alguns oficiais estudavam e treinavam o
assunto e tentavam persuadir o serviço a criar uma escola.
Coréia
Quando a Guerra da Coréia iniciou os snipers tinham sido
retirados de serviço após o fim da Segunda Guerra
Mundial. Alguns exércitos, como o Canadá, acharam
que o sniper seria irrelevante na guerra moderna.
O terreno montanhoso da Coréia favorecia o engajamentos de
longo alcance. Os australianos já pensavam que seria uma
guerra de snipers e estavam preparados, com cada Companhia tendo alguns
snipers e com arma adequada. Vários snipers tinham
experiência na Selva de Borneo e gostaram de atirar a
distancias maiores que 100 metros.
O aparecimento de sniper no lado comunista logo forçaram os
ocidentais a retomar o treinamento de snipers e fez a guerra lembrar a
frente de trincheiras da Primeira Guerra Mundial. As tropas ficavam
escondidas, mas os americanos também passaram a poder
avançar sem ser molestados com apoio dos seus snipers. A
tecnologia era a mesma de 1940. Uma tática era operar junto
com a metralhadora BAR como na Segunda Guerra Mundial. Podiam usar
munição traçadora para indicar alvos
para a metralhadora BAR e metralhadoras .30 que não podiam
ver as próprias traçantes a distância.
Vietnã
No inicio do conflito no Vietnã, o USMC tinha poucos snipers
que estudavam assunto por contra própria enquanto o
Vietnã do Norte tinha várias equipes de snipers
para cada Companhia.
O USMC no Vietnã tinha vários
critérios de seleção enquanto O US
Army escolhia os melhores de mira na Companhia. O USMC dava duas
semanas de treino no Vietnã sobre reconhecimento,
ocultação e sobrevivência. O programa
foi iniciado em 1965 e em 1968 se tornou uma Escola permanente com cada
regimento de reconhecimento tendo um pelotão com
três grupos de combate de cinco duplas de snipers,
além do comando de tropas. O batalhão de
reconhecimento tinha quatro grupos de combate com três duplas
de snipers além do líder, sargento auxiliar e
armeiro.
Os americanos tiveram que reiniciar o treino de sniper quando o
conflito começou. O USMC iniciou o treinamento na frente de
batalha com os instrutores reaprendendo a arte dos snipers na pratica.
Usavam o princípio de só ensinar se tiver
experiência. O local foi a Colina 55 onde os incidentes com
snipers inimigos no local caiu de 30 por dia para um ou dois por
semana. Os instrutores observaram o local, a trajetória dos
projeteis que mataram Marines e observaram que os pássaros
não pousavam em certos lugares. Logo perceberam que havia um
túnel para atirar de locais com grama alta de
várias direções. Pediram para apontar
um canhão sem recuo de 106mm para a
posição devido a distância. Em caso de
tiro de snipers disparariam lá. Dois dias depois um sniper
comunista disparou. O canhão de 106mm estava pronto e logo
foi disparado. O sniper comunista nunca mais disparou.
No conflito do Vietnã o US Army introduziu a
munição de 5,56mm. Esta
munição mostrou ser limitada com alcance de 300m,
não penetra bem na vegetação e com
pouco poder de parada. Os soldados americanos podiam ver os Vietcongs a
centenas de metros e não conseguiam engajar com o M-16. As
tropas passaram a equipar fuzis M-14 com luneta que depois foi
escolhido oficialmente para ser o fuzil de snipers e chamado de M-21 em
1968. O M-21 foi equipado com a luneta ART I (Auto-Ranging Telescope)
com inclinação variando com o foco para compensar
a queda dos projéteis automaticamente. Logo foi reiniciado a
seleção e treinamento dos snipers. O treinamento
incluía chamar artilharia. Os recrutas davam até
700 tiros por dia, mas era bom mesmo para condicionar o tiro.
Enquanto o US Army gostou do M-21, mas o USMC não. O USMC
escolheu o fuzil de ferrolho Remington 40X com mira Accu-range 3x9 que
foi chamado de M-40A1. Os fuzis com ferrolho eram ruins nos
engajamentos de curto alcance na selva e os snipers levavam pelo menos
um fuzil M-14 ou pistola .45. Atuavam em time de snipers com um
pelotão de apoio.
Os snipers vietcongs eram bem treinados, com um curso de 12 semanas. Os
comunistas eram treinados no norte e repassavam o conhecimento
rudimentar para as tropas do sul. Os norte vietnamitas tinham
três grupos de combate de 10 snipers por Regimento que eram
protegidos por um pelotão de segurança para cada
grupo de combate. O problema era a falta de
munição. Os snipers do vietcong ficavam 8 horas
por dia em campo e só podiam disparar três tiros a
cada cinco dias. Atacavam helicópteros na zona de pouso e
serviam como observadores. Os alvos eram oficiais, sargentos e
rádio-operadores, abatidos a distância de 600-700
metros, com objetivo de atrapalhar processo de C3 e fogo e manobra.
Além dos snipers comunistas, outra ameaça
silenciosa eram as armadilhas e minas. Logo os americanos perceberam a
importância das táticas anti-snipers e passaram a
usar artilharia e apoio aéreo.
O US Army operou mais ao sul do Vietnã, com terreno plano,
com muitas plantações e mais aberto.
Já o USMC atuou mais ao norte, com muitas florestas e sem
bons campos de observação e de tiro. Inicialmente
os snipers operavam acompanhando patrulha e depois foram liberados para
caçar e mostraram ser a forma mais efetiva.
Os snipers americanos atuando a curta distância, atiravam e
corriam. A longa distância não precisavam correr.
Esperavam alguém ir até o corpo e ativara
novamente. Os sniper marcavam alvos com traçantes para
outros meios. Podia ser uma embarcação ATC com
canhão de 105mm.
Afeganistão
Russo
O conflito russo no Afeganistão pode ser considerado uma
guerra dos snipers. Os soldados russos raramente viam o inimigo que
disparou e os guerrilheiros afegãos eram bons de mira. Um
soldado cita que quando seu blindado foi atingido por uma mina, quem
saia do blindado era logo atingido. O blindado pegando fogo estava mais
seguro que lá fora e só puderam sair quando
outros blindados chegaram para ajudar. Ao saírem notaram que
o local próximo mais protegido onde poderia se esconder um
sniper estava a pelo menos 500 metros. A guerra no
Afeganistão mostrou a fragilidade do sistema de treino dos
snipers russos a nível de batalhão e logo foi
criado escolas a nível de Corpo de Exercito.
Malvinas
O cenário da Guerra das Malvinas tinha bons campos de tiro e
boa cobertura sendo um paraíso para os snipers. Os
argentinos usaram o fuzil K98K de fabricação
local e a M-14 além de outras armas. A maioria dos snipers
usava um fuzil com FAL com luneta. Estavam equipados com a mira noturna
PVS-4 de segunda geração bem melhor que os
Starlight usados pelos britânicos.
Os britânicos usava o fuzil L42 que emperrava com
freqüência e a luneta ficava embaçada.
Logo começaram a jogar o fuzil fora e pegar fuzis FAL
argentinos que eram adequados contra alvos a até 600 metros.
Os britânicos treinavam tiro nos navios enquanto iam para as
Malvinas.
O valor dos snipers foi novamente mostrado quando um único
sniper argentino conseguiu parar uma Companhia britânica por
quatro horas. Em Goose Green, os snipers britânicos atiravam
nas gretas dos bunkers a 700 metros e os argentinos se rendiam. Era bem
mais barato que o uso de mísseis Milan que também
foi usado na tarefa. Já as tropas convencionais tinham que
dar muita supressão concentrada para poder
avançar.
Um sniper argentino conseguiu abater treze militares ingleses antes de
ser apanhado. Sua camuflagem era perfeita, e ele atirava apenas em
suboficiais e operadores de rádio. Foi descoberto por acaso,
quando um soldado inglês, olhando exatamente para o ponto
onde ele estava, viu a fumaça de um disparo. Rendeu-se, foi
capturado vivo e considerado apenas um prisioneiro de guerra.
Chechênia
No conflito na Chechênia os russos tiveram que reaprender as
táticas de sniper na cidade e testaram armas e
táticas novas. As batalhas em Grozny lembravam Stalingrado
onde podia se perceber facilmente a importância dos snipers.
O problema é que os sniper russos eram treinados para atuar
como parte de um ataque de armas combinadas avançando
rapidamente contra forças se defendendo, atuando como DM.
Não estavam preparados para caçar snipers em
ruínas ou preparar emboscadas por dias seguidos. Cada
pelotão tinha um DM armado com um SVD e que era protegido
pelo pelotão.
No inicio da guerra na Chechênia em 1992 havia na
Rússia os snipers da reserva das unidades de snipers da RVGK
em pequena quantidade e os snipers como parte das unidades que eram DM.
As equipes do FSB e MVD eram mais treinadas para
ações tipo polícia e eram ruins para
caçar snipers ou atuar em campo ou guerra urbana.
Depois da Segunda Guerra Mundial os russos continuaram enfatizando as
táticas de supressão, usando até as
AK-47/74 para supressão, e com os snipers/DM batendo alvos a
longa distância. O próprio fuzil SVD foi projetado
para apoio de fogo especial e não para sniper, aumentando o
alcance do pelotão de 300m para 600m. Sem um observador com
luneta o atirador nem pode ajustar o fogo com eficácia como
os snipers ocidentais.
Até 1984, os snipers/DM russos eram treinados a
nível de Regimento por um oficial escolhendo alguns recrutas
de melhor desempenho. Eram retreinados a cada dois meses por alguns
dias. Esta doutrina criava bons DM que cobriam setor de 200 x 1000m.
Era esperado uma probabilidade de acerto (Pk) de 50% contra um homem em
pé a 800m, e 80% a 500m. A razão de tiro era de
dois tiros por minuto para conseguir estas estatísticas.
Já os chechênos conheciam bem o terreno e tinham
muitas armas de snipers. Bastavam alguns poucos snipers
chechênos para conseguir parar unidades russas inteiras nas
cidades. Atuavam como sniper sozinhos ou como parte de uma equipe de
quatro armados com PKM e RPG-7. Estes times eram muito efetivos para
caçar blindados. Enquanto os snipers com SVD pegavam tropas
de apoio os soldados com RPG engajavam os blindados. Grupos de 4-5
times atuavam contra um único blindado. Nas montanhas os
snipers chechênos engajavam a longa distância junto
com a equipe de apoio. A equipe de apoio ficava mais distante. O sniper
disparava alguns tiros e mudava de posição. Se os
russos respondiam ao fogo a equipe atirava para atrair o fogo e deixar
o sniper fugir.
Em 1999 foi criada uma escola de sniper. Testaram várias
combinações de equipes de 2-3 tropas com
vários tipos de armas como PKM, RPG-7, SVD e fuzil AK.
Vários destacamentos atuavam juntos para apoio
múltiplo. Logo voltaram a usar snipers da reserva RVGK.
Atuavam em dupla com apoio de uma equipe de cinco tropas. Os russos
voltaram a invadir a Chechênia em 1999, mas com equipes de
caça e ataque com dois a três snipers junto com
uma equipe de segurança com pelo menos cinco tropas.
Não eram só DM e estavam preparados para entrar
em posição de dia e atuar a noite.
Na Segunda Guerra Mundial a dupla ficava na mesma
posição de tiro, mas na Chechênia
ficavam separados podendo ver um ao outro. Criavam pontos de emboscadas
200-300 metros do local. O grupo de apoio ficava a cerca de 200m
atrás e 500m para o lado, em uma
posição camuflada, por uma ou duas noites e
depois retornavam a base.
Os snipers não tinham intenção de se
render e por isso, além do fuzil de sniper, levavam um fuzil
AK-74 ou pistola, além do óculos NVG, flares,
granadas e as vezes um rádio. Se a equipe de apoio falhar, o
flare vermelho era usado para chamar a artilharia para a
posição. As vezes o grupo chegava a 16 tropas no
total. Os russos não atuam com dupla observador/sniper.
Geralmente opera com um a três atiradores. Os
periscópios tinham sido retirados de uso e voltou a operar
na Chechênia para observação.
Os alvos prioritários eram os snipers chechênos e
os operadores de lança-chamas RPO (na verdade um
lança-rojão com munição
termobárica). A seguir estavam os operadores de PKM e RPG-7.
Snipers
russos operando na Chechênia. Notem a escolta de fuzileiros.
Um sniper
russo atuando na Chechênia. No conflito da
Chechênia o Exercito russo estava sem treino há 2
anos e as unidades estavam incompletas. Reuniram unidades sem treino
com as pouco treinadas em unidades mistas.
O SV-98
é o novo fuzil dos sniper russos. O modelo acima
está equipado com um supressor de som.
Equipe de snipers russos. Depois do conflito na Chechênia os
russos testaram várias combinações
para as equipes de snipers. A equipe acima está equipado com
um fuzil SVD, um fuzil AK com sensor térmico e supressor de
som e um ajudante com uma matralhadora PKM.
Iraque
Nos dois primeiros anos de conflito no Iraque em 2003 os snipers
americanos conseguiram muitos kills. Depois menos de um por
mês. Os alvos "fáceis" foram todo mortos e os
sobreviventes se adaptaram.
Milhares de fuzis SVD foram capturados durante a invasão em
2003, mas a força de segurança de Saddam
armazenaram pilhas antes e um bom atirador só precisa de
pouca munição. Os insurgentes
não tem mira noturna e só atiram área
iluminada a noite. Não tem rádio, as vezes usam
celular, e só levam o fuzil e as vezes um carregador
adicional tornando-se muito móvel, e fácil
descartar as evidencias incriminatórais para se misturar a
população.
O inimigo sabe o que americanos podem fazer e passaram a tomar mais
cuidado com a presença de tropas próximas. Todos
observam os americanos e estudam suas táticas e
técnicas. Sabem o que é uma Força de
Reação Rápida (Quick Reaction Force -
QRF), e como opera e aprenderam a disparar e fugir antes que a QRF
chegue.
Também passaram a considerar as regras de engajamento e uma
diz que um sniper só atiram em inimigos armados. Assim
não levam armas até precisarem usar e
só andam com roupas civis para se misturar a
população. Durante a ação
usam balachava preta e encobrem a identidade.
Com o inimigo vestido de roupas civis as tropas americanas passaram a
levar kit policial RIFF. Se colocam nas mãos e roupas o kit
fica azul em contato com pólvora o que denuncia quem usou
armas recentemente. Os guerrilheiros iraquianos também usam
humanos como proteção frequentemente. As vezes os
civis são pagos ou simplesmente aterrorizados. Os civis
são compensados se indicam os esconderijo dos sniper o que
virou a maior atividade das crianças. Mesmo assim o uso dos
snipers mostrou ser eficiente. Poucos podem manter vários
quilômetros de estrada livre de bombas ou deixar a guerrilha
longe de certos locais.
Um fuzil M40A-1 do USMC foi encontrado em um carro atacado em
Habbaniyah. O fuzil tinha sido capturado em uma emboscada em Ramadi
dois anos antes em 2004. Outra equipe de seis snipers dos USMC foi
emboscada em Haditha e levou o serviço a repensar o emprego
dos snipers. Agora operam em grandes grupos.
Um sniper americano no Iraque classificou os sniper insurgentes em
três tipos. O potshot é que um civil com fuzil de
sniper, geralmente um SVD. O potshot atira a no máximo 200m
sem precisar compensar o tiro e são a maioria. Tem o
equivalente ao DM com treinamento de tiro. Geralmente é um
ex. militar. Aprendendo com a experiência pode se tornar
mortal. São cerca de 40-45% de todos os sniper.
Já os sniper qualificados são poucos e mortais.
Vários tem experiência na Chechênia e
outro lugares. Felizmente para os americanos são cerca de
5-10% no máximo.
O US Army levou três sniper para treinar tropas americanas em
Bagdá. Realizam cursos de quatro semanas ao invés
de cinco. O curso no local é bom para já
aclimatar com o deserto. Os tiros são feitos em alvos com
fotos dos mais procurados e já treinavam
inteligência. Também preparavam os alunos para
chamar artilharia.
No Iraque os snipers americanos protegiam as
instalações de petróleo com
helicópteros UH-60 com capacidade de disparar com fuzil M-24
ou M-107 dando grande mobilidade. Esta técnica já
tinha sido usada no Vietnã. A aeronave em alerta decola em
30 minutos em resposta rápida ou cobre uma área
bem grande em patrulha de rotina.
Os snipers são geralmente usados para apoiar patrulhas
avançando. Usavam seus óticos para procurar
locais suspeitos de ter explosivos IED.
Uma dupla
de sniper americanos no Iraque. Os fuzis estão camuflados e
um está usando um periscópio para observar os
arredores. Estão equipados com binóculos,
rádios, telemetros e um está com um fuzil
automático. Os americanos colocaram dúzias de
duplas de sniper no topo dos prédios em Bagdá
para atirar em qualquer individuo armado ou atacando tropas americanas.
Com superioridade aérea tiveram domínio
fácil dos topos dos prédios.
Próxima Parte:
Técnicas
e Táticas
G-LOC
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